quinta-feira, 20 de novembro de 2008


A alegria e a tristeza não são como o azeite e a água: elas coexistem!” in Ensaio sobre a Cegueira

Para mim, a qualidade de um filme mede-se pela sua capacidade de me fazer sentir e pensar, de não me deixar indiferente… E o filme que fui ver ontem conseguiu-o de uma forma inigualável e fez-me voltar para casa com a vontade de me reconciliar com Saramago, perdoando-lhe a propositada escrita compacta, esquecendo que só li o “Memorial do Convento” à terceira tentativa, vencida pela intensidade e frontalidade do “Ensaio sobre a Cegueira”.

Na tela, expõe-se a complexa natureza humana e a forma como molda as relações sociais. Um ser humano pode ser capaz, em simultâneo, de sentimentos e atitudes contraditórios, como o egoísmo e o altruísmo, o oportunismo e a solidariedade, a violência e o amor, a tirania e a liberdade. A organização social é indissociável da existência humana, mas os modos de a estruturar podem ser distintos e assumir formas democráticas ou despóticas, colocando na liderança dos grupos indivíduos que nem sempre são os mais aptos, mas que seguramente são os mais espertos!

Basicamente, ver o filme é uma boa forma de percebermos, como que observadas através de uma lupa, à micro-escala, as razões que explicam que a guerra, a fome, a desigualdade e a exploração ainda persistam num mundo e num tempo marcados por um desenvolvimento económico e um progresso tecnológico sem precedentes históricos! Tem tudo a ver com o facto de, independentemente dos valores que nos orientam, sermos incapazes de eliminar as nossas predisposições inatas para o bem e para o mal.

Recomendo!